As distrações são uma das grandes responsáveis pelos nossos fracassos.

Na verdade, não. Vamos formular isso melhor.

Quando escolhemos as distrações, deixamos de fazer aquilo que devemos fazer e, por isso, fracassamos.

Veja que a responsabilidade de escolher está em nós, não no que acontece ao nosso redor. Mesmo que sua vida seja dinâmica o suficiente para que você divida sua atenção, não é impossível ser capaz de voltá-la inteiramente a uma única atividade.

Neste post, vou trazer alguns trechos do livro "A arte de pensar", escrito por Ernest Dimnet, que falam sobre a concentração e sua relação com a arte de pensar.

No capítulo "Vivendo a nossa vida", o autor define a concentração como "solidão interior" que:

É curioso perceber que, mesmo a palavra concentração sendo derivada de centro, 'ponto para onde convergem as coisas'*, o autor a tenha associado à ideia de eliminação. Nesse caso, no ato de eliminar, ao mesmo tempo que escolhemos o que desejamos manter conosco, escolhemos o que queremos descartar. É trazer para o centro o que importa.

Curioso também é o conceito "imagens alheias". Mesmo que o livro tenha sido escrito no começo do século XX, essa colocação do autor se encaixa perfeitamente com o feed de qualquer rede social da internet. Uma sequência infinita de imagens alheias passam por nossos olhos todos os dias, distraindo nosso pensamento, fragmentando nosso mundo em um emaranhado de informações desconexas, como um filme composto de um efeito kuleshov sem sentido.

Mas será que é preciso ser muito acima da média para aprender a se concentrar? É isso que o autor nos responde:

Ou seja, a atenção está muito mais ligada à ação constante do que uma disposição natural que alguém possa ter. Isso mostra que, para tê-la, é necessário criar o hábito, o que vai demandar um esforço diário até que ele seja incorporado totalmente por quem o pratica.

No entanto,

Lembro-me de um depoimento do Hans Zimmer, um dos grandes (senão o maior) compositor de trilhas sonoras para o cinema atualmente, no qual ele conta que ficou por 72 horas horas sem dormir enquanto compunha para o filme Black Hawk Down. O interesse dele em criar algo extraordinário para aquela história foi o que o manteve tão concentrado a ponto do sono não ser capaz de vencê-lo.

Nunca cheguei ao ponto de Hans, mas já li um livro por 3 horas ininterruptas.

De tudo que foi apresentado podemos tirar 3 dicas práticas:

1ª Elimine as imagens alheias

A sequência de imagens alheias deve ser posta de lado. Ponha o celular no modo avião ou desligue-o, se for preciso. Você não precisa estar a todo momento vendo tudo que acontece com todo o mundo.

Algumas redes sociais lhe permitem ver o tempo gasto diariamente naquela rede. Entre lá, veja quanto tempo você tem gastado. Descubra em quais horários do dia você mais utiliza essa rede simplesmente para ficar rolando a tela para baixo. Uma hora, duas horas, três horas... o que você poderia estar fazendo com esse tempo?

2ª Habitue-se a ter atenção

Agora que você já eliminou o que não queria, precisa organizar sua rotina, desenvolvendo nelas os hábitos de atenção. Naquelas duas horas que você gastava no celular, é possível fazer qual atividade? Você vai utilizar quanto tempo para fazer essa atividade? O que você quer alcançar com essa atividade? O que será feito depois dela? Vou me dedicar a ela quantas vezes por semana? Tenha uma agenda ou um caderninho onde você possa anotar suas tarefas

3ª Hum, interessante!

Agora que você já eliminou as imagens alheias e estabeleceu a organização de seus hábitos é momento de definir as atividades que lhe interessam e dedicar-se a elas. Quer aprender a tocar um instrumento? Quer aprender uma nova língua? Quer, simplesmente, colocar seus estudos em dia? Comece a tarefa, determine uma hora para terminá-la e repita isso todos em todos os dias que você definiu.

*Definição do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, 2010.

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