Os requisitos de um bom professor
- Rebecca Souza

- 10 de fev. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de mar. de 2022

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Quais requisitos um bom professor possui? Dentre os muitos que podem ser mencionados, existem aqueles que são essenciais, que não dependem da maneira de ser do professor, seja ele mais "cool" ou mais severo, metódico ou dinâmico, apreciador da tradição ou antenado nas inovações. São alguns desses requisitos essencias que o livro "A arte de ensinar" nos traz.
Longe de serem conceitos teóricos abstratos e distantes, os requisitos apontados são fundamentos simples e esquecidos que o autor - e também professor - Gilbert Highet vem trazer à nossa memória.
Aqui, veremos três deles. Vamos ao primeiro:
Conhecer bem a disciplina que se ensina
Embora pareça muito óbvio, há uma tendência na educação moderna de priorizar o método em detrimento do conteúdo. Ou seja, o mais importante para o ensino é a forma como algo será ensinado a alguém, independentemente do que esteja sendo ensinado.
Conhecer a disciplina é sinônimo de estar aprendendo sobre ela dia após dia, num contínuo de crescimento pessoal e profissional. No entanto, "conhecer a disciplina" não é um chamado à uma visão estreita da aprendizagem do professor, muito pelo contrário. Com relação a isso, Highet diz:
"Se uma moça pretende ensinar francês numa escola secundária, não creia que para isso bastará memorizar os textos e as noções de gramática, deixando abandonado outros aspectos. Deverá dedicar parte de sua vida à língua francesa, à soberba literatura francesa, à história, à arte e à civilização da França."
Visto dessa maneira, o conhecimento é um chamado à realidade. O envolvimento e o comprometimento em conhecer a cultura francesa, tornarão a professora capaz de enriquecer suas aulas de literatura com os aspectos vivos de sua disciplina, possibilitando que seus alunos criem identificação com a língua francesa.
Gostar da disciplina que se ensina
Buscar todo esse conhecimento vai exigir muita dedicação. Para que essa jornada não se torne um suplício, é preciso gostar da disciplina que se ensina. Embora seja difícil que se goste de todos os aspectos dela, o natural interesse é imprescindível para que se tenha ânimo durante a caminhada.
"Pense como você ficaria espantado se o seu médico, confidencialmente, lhe dissesse que nunca realmente se preocupou com a arte de curar; que nunca leu revistas médicas nem dedicou atenção aos novos tratamentos de moléstias triviais; que clinica para ganhar a vida [...] e que, por fim, confesse que o seu real interesse é o alpinismo. Você logo mudaria de médico."
É normal sentir-se desconfortável quando lidamos com alguém que não gosta da profissão que exerce. Os alunos também sentem isso, e com muito mais intensidade. O professor, concordem ou não, ainda é um exemplo a ser seguido, é uma referência de autoridade para seus alunos. Se ele demonstrar que aquilo que ensina é inútil, cansativo e desinteressante, os alunos verão a disciplina da mesma forma, afetando diretamente o nível de aprendizagem deles. A consequência é a criação de uma barreira quase intransponível no processo de ensino e aprendizagem.
Gostar dos alunos
"Se você não se sente bem com a perspectiva de encarar os jovens em grandes grupos, se prefere trabalhar sempre num laboratório, ou numa biblioteca, nunca chegará a ser bom professor."
Os alunos estarão próximos o tempo todo, é preciso gostar e saber lidar com essa companhia. A interação do professor com os alunos deve ser fundamentada no respeito, no qual cada um reconhece e valoriza o outro por sua constituição humana.
Na sala de aula, o uso da palmatória e outros castigos eram comuns algumas décadas atrás. Embora tivessem como objetivo a disciplinação, há relatos de alunos que ficaram desmotivados para estudar devido ao excesso de severidade em alguns desses castigos. A principal causa disso é que eles associaram essa "disciplina" à ideia de que o professor não gostava deles, por isso os punia.
Hoje, numa ordem inversa, os casos, infelizmente cada vez mais comuns de violência contra professores, nos mostram que são os alunos que não tem gostado dos professores. Nessa situação, os problemas não são apenas dos alunos, são das famílias e do próprio sistema educacional (mas isso já é assunto para outro post).
Diante disso, fazer a distinção entre comportamentos típicos da idade do aluno e ações de evidente indisciplina torna-se, portanto, fundamental para aplicar as medidas necessárias em cada situação. Nesse caso, mesmo com todo o arcabouço legal (ECA, por exemplo), mais uma vez, o conhecimento sobre o aluno, principalmente na sua essência de ser humano, é a maneira mais efetiva de manter ou tornar saudável a relação aluno-professor.
A respeito disso, Highet traz algumas considerações valiosas:
Portanto, se você estiver interessado em ensinar, não espere que os jovens sejam iguais a você e às pessoas com que você habitualmente convive. Aprenda as formas peculiares de seus pensamentos e de suas emoções...
[...]
Como se poderá aprender tudo isso? Principalmente, pela experiência. Observe-os e converse com eles. Misture-se com eles fora das horas de trabalho. Esteja em sua companhia sempre que possa, e, uma vez por outra, brinque com eles. Ouça-os, não para tornar-se indiscreto, mas para compreender o ritmo tão variável e descuidado dos seus chilreios, e o de suas emoções e pensamentos.
Você concorda com Highet? Qual requisito você considera essencial?
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