Thorndike e os alunos programáveis
- Rebecca Souza
- 11 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de mar. de 2022

Se você é estudante de psicologia é bem provável que o nome "Thorndike" seja mais familiar para você do que para um estudante de pedagogia.
O fato é que Edward Lee Thorndike, mesmo sendo um psicólogo, é um dos responsáveis pelas profundas mudanças ocorridas nos sistemas de educação durante o século XX, com consequências que perduram até hoje em nossas escolas.
No livro "A conexão de Leipzig", escrito por Paolo Lionni, há um capítulo dedicado a mostrar os pensamentos, os métodos e o trabalho de Thorndike relativos à educação.
Para começar a conhecer esses pensamentos, nada melhor do que começar com as próprias palavras de Thorndike. Uma das obras dele mencionadas no livro, The Principles of Teaching Based on Psychology, diz o seguinte:
"O objetivo do educador é produzir mudanças desejáveis e inibir as indesejáveis nos seres humanos, por meio da produção ou supressão de certas respostas. Os meios à disposição do educador são estímulos que podem ser impostos ao pupilo - bem como as palavras, os gestos e a aparência do educador, ou a condição e os recursos do ambiente escolar, os livros a serem usados e os objetos à vista, e assim por diante, em uma longa lista de coisas e acontecimentos que podem ser controlados pelo educador."
Thorndike acreditava que o comportamento humano era como o comportamento animal, bastando que, através de estímulos certos, o ser humano apresentasse as reações desejadas. Nessa perspectiva, educar é como realizar um teste em um laboratório. Tudo muito simples, objetivo e sob controle. Era uma maneira de dizer que, se o educador fizer bem o seu papel, os alunos, programáveis por natureza, serão facilmente educados.
Ao refletir sobre essa visão de Thorndike, não pude deixar de me lembrar de uma famosa cena do filme "Clockwork Orange" (Laranja Mecânica), quando Alex, o personagem principal e psicopata da história, é submetido a um tratamento psicológico para se tornar uma pessoa melhor.
Alex é amarrado com uma camisa de força e é preso a uma cadeira. Em frente a uma grande tela, seus olhos são forçados a ficarem abertos através de um mecanismo que segura suas pálpebras, impedindo que elas se fechem. Nessa tela, imagens da Segunda Guerra Mundial são exibidas com a finalidade de mostrar as piores cenas de violência. O tratamento consiste em trazer estímulos visuais que façam com que Alex associe sentimentos negativos às imagens de violência. Ao criar essa aversão à violência, acredita-se que Alex sentirá essa mesma aversão quando tentar praticar um ato violento.
Se no caso de Alex o estímulo buscava reações negativas, o oposto também pode ser usado na educação para "produzir mudanças desejáveis". Ao associar uma atividade a algo que agrade à criança, Thorndike acreditava que a aprendizagem aconteceria por causa dessa associação. Ou seja, além de estabelecer que só o que é agradável merece ser realizado, a criança é simplesmente manipulada com base em suas emoções. Não há processo cognitivo.
Podemos ver o reflexo desse pensamento dentre as muitas "estratégias didáticas" utilizadas atualmente na educação. Uma delas é que o aluno deve sempre estar se divertindo com o que aprende, sem demandar dele nenhum esforço para tanto. Quando os alunos se deparam com alguma dificuldade e percebem que podem sofrer para superá-la, entendem que algo está errado já que suas expectativas não foram atendidas. O resultado é que esses alunos desistem no meio do caminho ou revoltam-se com a escola.
Essa educação torna-se inimiga de si mesma.
(continua...)
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