A história da minha biblioteca - Parte 2
- Rebecca Souza

- 12 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de mar. de 2022
Agosto de 2019
Agora, com todos aqueles livros, deveria decidir qual deles eu leria primeiro. Meu primeiro passo foi fazer uma breve leitura da biografia dos autores, tentando entender o momento histórico do qual eles faziam parte.
Essa inspeção superficial não era suficiente para que eu decidisse e, confesso, nem a levei em consideração na época. Eu já havia ouvido falar de muitos deles, uns mais, outros menos, todos interessantes e de nacionalidades diferentes, exceto brasileiros - esses chegaram só depois.
Um livro de capa vinho escuro com o título "As ilusões perdidas", Balzac, fez com que eu me detivesse olhando pra ele por algum tempo. O meu pensamento foi "Não faço a mínima ideia sobre qual história pode estar por trás desse título. A única coisa que dá pra saber é que alguém teve ilusões, ou seja, foram mais de uma, e que elas foram perdidas. Logo, esse alguém que perdeu as ilusões deve ter sofrido muitas mudanças em sua vida, momentos tristes, enfrentando dificuldades, solidão...". Esses pequenos devaneios que todo leitor adivinho gosta de ter. Toda essa suposição durou poucos instantes e sumiu completamente quando abri o livro e li a nota introdutória escrita pelo Paulo Rónai.
É preciso dizer que, no ano de 2019, eu ainda estava muito interessada em entender o que tinha acontecido na política brasileira. Ano pós-eleitoral, o país estava muito politizado, polarizado e pormenorizado. Às vezes era inacreditável saber de tudo que havia acontecido.
Meu maior pesar era uma expressão daquele brasileiro desgostoso com a própria terra e próprio povo, daqueles que vivem dizendo "só no Brasil mesmo pra isso acontecer".
Esse livro, com certeza, não tinha nada a ver com essas coisas.
Logo na segunda página da nota fui surpreendida:
"Pelas ramificações do jornalismo chegamos a outros ambientes: o da indústria editorial e o comércio de livros, o dos teatros - admirável ocasião para se olhar 'atrás dos bastidores' - , o da política conluiada com a imprensa, o da aristocracia conluiada com a política. Por trás de tudo, o dinheiro agindo desavergonhada e impiedosamente..."
A sensação que tive foi a de um flashback inverso. Como assim? Isso também acontecia na França pós-Napoleão? (eu já conhecia um pouco sobre a história da França porque eu havia ficado curiosa desde que li "O vermelho e o negro", de Stendhal). Talvez minha ingênua ignorância tenha sido a maior culpada por essa surpresa...
Além desse primeiro choque de coincidência, a bela apresentação da obra feita pelo Paulo Ronái, mostrando as semelhanças entre Balzac e seu personagem principal, elencando os diversos personagens da história e o contexto histórico da França daqueles tempos, definitivamente fizeram com que eu tivesse a certeza: é este o primeiro livro que vou ler!
(continua...)






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