Tomar notas durante a leitura: um caminho sem volta

Sublinhar, anotar nas margens da página, destacar com marca-texto ou marcar com algum símbolo um trecho eram vistos por mim como atitudes repreensíveis que nenhum leitor deveria ter. Mal sabia eu que, em pouco tempo, me tornaria objeto de repreensão.

Tive uma sensação de desconforto na primeira vez que sublinhei um livro. Peguei uma caneta verde claro e passei sob uma frase. A linha saiu trêmula, com ondulações irregulares, como um lago castigado pelas gotas da chuva. Horrível, pensei. Mas mesmo assim, ao longo da leitura, as linhas se multiplicaram. Somadas a algumas delas, incluí um nome que fazia sentido para mim, algo que eu já tinha visto e que foi lembrado por causa daquela frase.

Na segunda vez, senti que minha mão naturalmente buscava a caneta para atender à minha vontade de lembrar daquele trecho. Como eu havia lido dois livros como temas muito parecidos, criei uma associação entre eles, anotando o nome de um na página de outro. Era como ligar os pontinhos, só que sem saber qual figura se formaria no final.

Daí em diante, descobri, algum tempo depois que o auxílio de uma régua deixaria essa atividade com um aspecto bem melhor. Outras cores e símbolos também começaram a fazer parte do repertório de marcações. A cor azul claro, por exemplo, é utilizada para marcar os trechos que chamaram à atenção durante uma segunda leitura.

Nos livros de literatura, a história é um pouco diferente: apenas o lápis tem a permissão de marcar os acontecimentos mais marcantes, os nomes dos personagens e as nuances da história que, a cada leitura, tornam-se objeto de curiosidade e pesquisa. A tinta da caneta nesse contexto ainda não é bem-vinda.

No meio da leitura, uma anotação de outro livro aparece na minha mente. Pronto. Lá vai eu pegar o livro na prateleira para acrescentar a informação nova. Se não o faço, ela fica lá, pulando na minha mente até que eu a leve para onde quer ficar.

As anotações ajudam a reter a informação no cérebro. É fato. Por isso que adotá-las é entrar num caminho sem volta.