O que eu aprendi com o Didascalion
- Rebecca Souza

- 14 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de mar. de 2022

Apesar de eu sempre ter gostado de ler, percebia que grande parte do que eu havia lido não tinha ido para minha long-term memory. Ou seja, minha memória armazenava temporariamente aquelas informações e, conforme o tempo ia passando, quase tudo era esquecido, como um baú vazio no fundo do mar.
Se eu pouco me lembrava daquilo que havia lido, adiantava ler alguma coisa? Essa é uma das perguntas que começaram a me atormentar, fazendo com o que eu reavaliasse minha capacidade como leitora. Minha consciência sobre minha própria ignorância foi aumentando aos poucos e finalmente pude entender Sócrates quando disse: Só sei que nada sei.
Entretanto, foi por causa de ensinamentos preciosos e indicações de obras que eu nunca tinha ouvido falar que pude ter certeza de que eu não sabia ler. Sou profundamente grata às pessoas que me ajudaram. (Ainda falarei sobre cada uma delas neste blog)
Numa dessas obras indicadas, encontrei a resposta às minhas perguntas:
"Por isso rogo-te, ó leitor, que não te alegres de mais se porventura lês muitas coisas, mas alegra-te, sim, se compreendes muitas coisas, e não só se as compreendes, mas se consegues retê-las na memória. De outro modo, pouco importa ler ou compreender muitas coisas."
Quando li esse trecho, tive aquele sentimento que muitos leitores experimentam ao ler um livro: o de identificação. Até aquele momento, entendi que eu fingia que sabia ler, mas não sabia que eu estava fingindo que eu sabia ler. A última frase apenas é um exemplo de como era confuso o meu estado.
Realmente, não bastava ler muito, nem exibir filas de livros nas estantes, nem mostrar aquela lista inconcebível de livros lidos em um ano "Li 300 livros neste ano!". Quanto desperdício de tempo!
O problema estava descoberto mas, qual era a solução?
"O modo de ler fundamenta-se em dividir o que se lê.
Na nota de rodapé do livro, encontra-se a explicação sobre o que o autor quis dizer com esse "dividir"
"Esta divisão como faculdade da razão que fala Hugo de São Vitor é muito mais abrangente e elevada do que a simples operação matemática, a qual não é senão uma espécie dela. Esta capacidade de dividir inclui a possibilidade de toda a relação, classificação, proporção e comparação; é com ela que propriamente raciocinamos."
Ou seja, a leitura deve ser relacionada à algo que já exista em sua mente, caso contrário, ela não pode contribuir com a reserva de informações e conhecimentos que servem de base para o seu pensamento e percepção da realidade. Se não há nada retido na mente ou, pior, se o que se tem é uma distorção, uma fragmentação errônea daquilo que foi lido ou um punhado de frases soltas, então seria melhor nem ter lido coisa alguma.
"Entretanto, nada pode ser considerado bom se exclui o que é melhor. Se não podes ler todas as obras, lê as que são mais úteis; e, se puderes ler todas, não deves, todavia, despender em todas elas o mesmo esforço. Por outro lado, algumas obras devem ser lidas para que não te sejam desconhecidas, outras, todavia, para que não te sejam inauditas, pois às vezes acreditamos que aquilo sobre o qual nada escutamos é maior do que realmente é, e também porque é mais facilmente estimado aquilo cujo fruto nos é conhecido."
Desse ensinamento, compreendi que eu deveria aprender a selecionar minhas leituras e a maneira como deveria ler cada uma delas. A partir disso, busquei orientação com quem entende mais do que eu sobre os livros que são imprescindíveis para quem quer entender literatura, gramática, a história da educação, as origens da língua portuguesa, as origens da língua inglesa, os problemas educacionais e como enfrentá-los e os todos os assuntos relacionados a esses temas.
Foi um curso natural, uma ação me levou à outra ação, como um efeito de reação em cadeia. Definir os objetivos foi fundamental para definir as etapas para alcançá-los (soa clichê, mas é verdade). Finalmente, minhas leituras encontraram seu caminho para a long-term memory antes que sumissem.
Curiosidade:
Foi deste trecho que tirei a ideia para o lema "Ler, Compreender e Reter".




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